A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, está no centro de uma das mais complexas investigações sobre corrupção no sistema prisional da Bahia. Detida desde janeiro de 2025, ela é acusada de facilitar a fuga de 16 presos no final de 2024, além de ser suspeita de envolvimento na morte de Alan Quevin Santos Barbosa, um jovem que teria feito postagens chamando-a de “miliciana”.

Segundo denúncia do Ministério Público da Bahia (MP-BA), oferecida à Justiça em março, Alan teria sido sequestrado por membros de uma facção criminosa ligada à ex-gestora, após criticar sua atuação e denunciar, em redes sociais, que Joneuma favorecia candidatos políticos e facilitava o acesso de produtos ilícitos ao presídio. O jovem foi levado de casa no dia 7 de junho de 2024 e, conforme a apuração, assassinado. Seu corpo ainda não foi localizado. As informações são do G1 Bahia.

Relação com o crime organizado e fuga de presos

Joneuma é apontada pelo MP como envolvida romanticamente com Ednaldo Pereira de Souza, o “Dadá”, líder de facção e um dos detentos beneficiados na fuga. O plano de evasão, ocorrido em 12 de dezembro de 2024, teria sido arquitetado com a colaboração de Wellington Oliveira Sousa, ex-coordenador de segurança da unidade, também preso.

As investigações revelam que presos ligados a Dadá receberam tratamento privilegiado, com a elevação ao posto de “correrias”, termo usado no sistema carcerário para definir detentos com livre acesso dentro da unidade. Eles teriam circulado armados e com chaves das celas, além de participar diretamente da entrada de equipamentos como celulares, armas brancas e até uma furadeira, utilizada para abrir o buraco que permitiu a fuga.

A operação contou com quatro veículos tipo SUV e oito homens armados, e os foragidos teriam seguido em direção ao Rio de Janeiro. Um deles morreu em confronto com a polícia, enquanto os demais seguem foragidos.

Regalias dentro do presídio e omissões administrativas

Diversos episódios de permissividade foram registrados durante a gestão de Joneuma. Detentos tiveram acesso a refeições especiais como moquecas de camarão, lasanhas e até uma ceia de Natal com chester. Uma celebração do Dia da Consciência Negra, dentro da unidade, contou com distribuição de acarajés e apresentação de capoeira, com a participação da própria diretora.

Além disso, um dos presos conseguiu velar o corpo da avó dentro do presídio. O caixão foi autorizado a entrar na unidade, com o corpo, para a realização da despedida.

Essas ações ocorriam, segundo os depoimentos, sob total ciência da diretoria. Durante reforma na ala onde ocorreu a fuga, presos transportaram ferramentas como a furadeira usada para a perfuração do teto, na presença de Joneuma e Wellington. A denúncia aponta que a diretora chegou a orientar a ocultação de documentos que relatavam a movimentação suspeita.

Esquema de compra de votos e favorecimento político envolve ex-diretora de presídio na Bahia

As investigações do Ministério Público da Bahia (MP-BA) revelaram, na última sexta-feira (4), um esquema de fraude eleitoral supostamente comandado por Joneuma Silva Neres. De acordo com a denúncia, Joneuma teria utilizado sua influência dentro da unidade prisional para intermediar a compra de votos em favor do ex-deputado federal Uldurico Pinto Jr. (MDB) e do então candidato a vereador Alberto Cley Santos Lima (PSD), conhecido como “Cley da Autoescola”.

A operação era realizada com o apoio do detento foragido “Dadá”, apontado como líder de facção criminosa e parceiro da ex-diretora. O esquema contava com presos provisórios e familiares como “eleitores cativos”, que recebiam R$ 100 por voto. Em troca, Joneuma teria a garantia de permanecer no comando do presídio, consolidando a influência do grupo criminoso e assegurando apoio político. As negociações com os políticos, segundo o MP, ocorriam dentro da unidade prisional, com manipulação de imagens e registros internos para evitar descobertas.

Desdobramentos e posição da defesa

Wellington Oliveira está preso em Teixeira de Freitas. Já Joneuma, que estava grávida no momento da prisão, permanece custodiada em Itabuna, onde deu à luz. O bebê segue com ela na unidade prisional. A defesa da ex-diretora nega todas as acusações. Sua irmã e advogada, Jocelma Neres, afirma que não houve envolvimento com Dadá e que ela está sendo responsabilizada por um crime que não cometeu. O advogado Artur Nunes reforça que não há prova de recebimento de valores ou envolvimento direto com a fuga.

Segundo a denúncia, entretanto, um dos presos afirmou que Joneuma teria recebido R$ 1,5 milhão pela facilitação da fuga. O MP sustenta que a ex-diretora usava sua posição para beneficiar diretamente a facção criminosa.

O que diz a Seap

Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) informou que desconhecia qualquer envolvimento da servidora com detentos e negou que o ex-deputado Uldurico Júnior tivesse qualquer influência política na gestão da unidade. A secretaria também desmentiu afirmações da defesa de que teria havido alerta prévio sobre o plano de fuga e ressaltou que, em inspeções realizadas, Joneuma sempre buscava aparentar normalidade.

Situação atual dos investigados

Além de Joneuma e Wellington, outros envolvidos também foram identificados. Vagno Oliveira Batista foi preso em fevereiro com uma arma de fogo e confessou ter se encontrado com Dadá e outros fugitivos na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Segundo ele, esse seria também o destino planejado por Joneuma, antes de sua prisão.

O processo, que segue sob segredo de Justiça, expõe uma teia de corrupção, relações impróprias e omissão dentro do sistema prisional baiano.