‘A falta de diálogo com a prefeitura ameaça o carnaval de Salvador’, critica Maurício Trindade 

O vereador Maurício Trindade (PP) fez duras críticas, nesta quinta-feira (13), à organização do Carnaval de Salvador 2025, classificando a festa como “completamente desorganizada”. Em entrevista ao Portal M!, Trindade afirmou que a prefeitura e os órgãos municipais não têm dialogado com ambulantes e outros trabalhadores envolvidos no evento.

Falta de diálogo

De acordo com o edil, a Câmara Municipal de Salvador (CMS) convidou representantes da Empresa Salvador Turismo (Saltur), da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) e de outros órgãos para audiências públicas sobre a organização da festa, mas ninguém compareceu.

“Todos foram convidados pelas várias comissões da Câmara, como a Comissão do Carnaval, a Comissão do Turismo, a Comissão da Reparação Racial e a própria presidência da Câmara convidou os órgãos da prefeitura para participarem [da comissão]. E, de uma forma covarde, nenhum deles apareceu nem para ouvir, muito menos para dar satisfação”, afirmou Trindade.

Trindade diz que festa está ‘desorganizada’

Questionado sobre o processo de organização da festa, o vereador apontou que ela está “desorganizada”. Outra crítica foi que a festa tem sido “feita de cima para baixo, por um burocrata no escritório, tomando atitudes, decisões monocráticas, ditatoriais, sem ouvir quaisquer outras pessoas que não sejam os próprios interessados”. Trindade afirmou ainda que o Carnaval de Salvador já foi um dos melhores do Brasil, mas que hoje está “feio e violento”.

Ele também criticou a falta de organização dos horários da festa, que tem causado prejuízos para a população, especialmente para aqueles que moram próximos ao circuito do Carnaval.

“Os moradores da Barra estão dizendo que não conseguem nem dormir, nem chegar em casa. O morador, que tem um aumento de quase 25% no IPTU, sofre porque o Carnaval da Barra tem que ir até 4, 5 horas da manhã. O médico tem que descansar, o policial tem que descansar, o enfermeiro tem que descansar, o cordeiro tem que descansar, o ambulante tem que descansar. Então esse excesso não faz a festa ficar mais bonita”, destacou Trindade.

Trabalhadores em condições precárias

Outro ponto levantado pelo vereador é a situação dos cordeiros dos blocos de Carnaval. Segundo ele, é necessário ofertar melhores condições. “Eles trabalham de cinco a seis horas seguidas, muitas vezes sem acesso a água gelada. Passam dez ou doze horas recebendo apenas um pacotinho de biscoito e duas garrafas de água quente”, denunciou.

O vereador continuou suas criticas afirmando que há uma falta de estruturas para os trabalhadores, e apontou a existência de apenas dois locais para tomar banho, para cerca de 30 mil pessoas. “Os ambulantes têm que pagar R$ 25 para tomar um banho. Se ganham R$ 100 por dia e gastam R$ 30 com isso, sobram apenas R$ 70, sem contar o transporte. Muitos acabam dormindo na rua por dez dias seguidos”, relatou.

Falta de assistência à saúde

Trindade denunciou ainda que os profissionais que montam as estruturas dos circuitos do Carnaval não contam com plano de saúde ocupacional. Ele afirmou que vários trabalhadores têm se acidentado durante a montagem, sem que a prefeitura ofereça suporte adequado. “A prefeitura não está ciente dessa situação ou simplesmente ignora o problema”, criticou.

Apelo ao prefeito para intervenção

Durante a entrevista, Maurício Trindade também fez um apelo ao prefeito Bruno Reis (União Brasil), para que o mesmo adote providências em prol de uma melhor organização da festa momesca. Na ocasião, o vereador também criticou os secretários municipais.

“Os secretários de Salvador fazem o que querem, não atendem nem recebem os vereadores. O prefeito, infelizmente, não está sabendo dessas coisas que estão acontecendo. Se soubesse, com certeza tomaria uma providência, porque é um prefeito humano, não é desumano como alguns secretários, e não quer que Salvador fique com essa marca de cidade mais violenta do Brasil”, afirmou.

Ele classificou a festa como um “Carnaval desumano”, ressaltando que essa imagem se deve ao descaso da organização da festa com os trabalhadores e moradores da cidade. “Nosso Carnaval, que já foi o maior e melhor, hoje é um Carnaval grande, mas desumano, feio, uma caixa-preta. Os músicos reclamam que ninguém sabe quem vai tocar, como vai tocar. Além disso, os moradores da Barra, que já citei, querem ser ouvidos, mas não são”, declarou.

Proposta para novo local do Carnaval

Por fim, o edil também rebateu a ideia de transferir o Carnaval para a Boca do Rio, sugerindo que a região do Comércio seria um espaço mais propício para a folia. Segundo ele, a mudança para o Comércio, além de promover uma valorização do bairro, tornaria a festa mais bonita esteticamente, tendo como cenário o Forte São Marcelo, a Avenida Contorno, o Elevador Lacerda, o Mercado Modelo e os navios de turistas que poderiam ancorar diretamente no local da festa.

Além disso, Trindade ressaltou que a região possui poucos moradores, o que reduziria transtornos à população. Ele destacou que quem comprasse imóveis na área já estaria ciente de que o local sediaria o Carnaval.

“Já está no circuito dentro do conjunto, sendo o Centro, Barra/Ondina, Comércio facilitando segurança, facilitando saúde, facilitando tudo. Então o que todo mundo pede é que a prefeitura ouça a população, ouça a Câmara, ouça as pessoas que estão se queixando do Carnaval, porque o Carnaval Salvador virou o Carnaval da elite”, avaliou.

Maurício Trindade preside audiência pública na Câmara

O vereador Maurício Trindade presidiu, na última quarta-feira (12), a Audiência Pública Trabalhador Legal, realizada no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador. O evento reuniu vereadores, representantes do Sindicato dos Cordeiros, ambulantes, montadores, recicladores, músicos, profissionais do entretenimento e membros da sociedade civil, que apresentaram suas reivindicações sobre os desafios enfrentados antes, durante e após o Carnaval.

Durante a audiência, foram discutidos os principais problemas vividos por esses trabalhadores, que são essenciais para a realização da festa. Eles tiveram a oportunidade de expor suas demandas diretamente aos vereadores presentes.

A principal queixa foi a falta de estrutura básica, especialmente a ausência de pontos de apoio para os trabalhadores. Eles solicitaram a criação de espaços no final do circuito Barra/Ondina, próximos aos camarotes, onde possam tomar banho, fazer refeições e guardar seus pertences enquanto acompanham o evento.

Outra reclamação frequente foi a imposição de uma única marca de cerveja no circuito, o que dificulta as vendas e impacta diretamente o trabalho dos ambulantes.

Manifestações durante o Carnaval

Diante desse cenário, as categorias sinalizaram que pretendem realizar manifestações diárias no percurso Barra-Ondina, o que pode comprometer o andamento do Carnaval.

“O que os cordeiros e os ambulantes estão falando sempre aqui, é que não vai ter Carnaval. [Estão dizendo] que eles vão sentar no meio da rua, lá n circuito Barra/Ondina e, com certeza, a polícia não vai tirar. 30 mil pessoas sentadas pacificamente na rua, querendo ser ouvidos. 30 mil pessoas paradas, vai ser uma vergonha nacional”.