Xi Jinping e as sandálias de 1000 dólares

O líder chinês Xi Jinping não pode mostrar que está negociando com Trump a guerra das tarifas, a encalhar a produção têxtil de larga escala, em algumas fábricas do país asiático. Seria desastroso e provavelmente mostraria fragilidade do grande dragão vermelho. Os camaradas e a população esperam que El Supremo mande “tapar todos os buracos e corredores das formigas, os esgotos dos grilos, os suspiros das fendas”.

Nada pode se mover, trocar de lugar, se ausentar por uns instantes, porque seria danoso e insuportável observar que o tempo passa, mesmo que a China tenha seu próprio calendário, baseado nas fases da lua, e leve também em consideração a posição do sol. Mas não é bem assim, embora o press release da agência oficial de imprensa da China alerdei a postura suprema de Xi.

Na edição do dia 26, online, Jonathan Cheng, do Wall Street Journal, mostra que “autoridades chinesas informaram a alguns importadores de produtos americanos que abririam mão dos recentes aumentos de 125% nas tarifas para certas importações dos EUA.

Esses produtos incluem certos semicondutores e equipamentos para fabricação de chips, produtos médicos e peças de aviação, disseram as pessoas. As exclusões destacam pontos de vulnerabilidade da economia chinesa. Muitas indústrias chinesas, especialmente as de tecnologia avançada, aeroespacial e farmacêutica, continuam dependentes de insumos fabricados nos EUA”.

Não é possível de repente desligar todas as cadeias produtivas e criar um novo ambiente de mercadorias, como se estivesse trocando o trem de pouso de um Boeing a 12 mil milhas de altitude. Trata-se de uma guerra de trincheira e quem suportar os danos por maior tempo acomodará pressões, irritações, xingamentos e feitiços atiçados de aliados, possíveis aliados, quase e aqueles que professam a fé, mas repentinamente dá muxoxo.

Tarifas não barram o contrabando e o grosso das mercadorias viaja de navio e os portos não acolhem reclamação de lojista, ou superatacadista, do contrário não existiria a Rua 25 de Março em São Paulo. As inúmeras lojas concorrem com o camelô, que exerce duas funções, vendedor e marketing.

Se o consumidor não encontrar a mercadoria desejada, a busca na vitrine do outro lado da rua, porque alguém já passou a mensagem, a informação, de com a roupa ou o colar, a fará invejada, mas odiada por Marx, porque trata-se de auto alienação, dado que “a atividade e o gozo também são sociais, tanto em seu modo de existência, como em seu conteúdo”. No entanto, o social decorre do privado e a essência humana só é vendida na China para a multidão, especialmente.

Enquanto Xi tenta controlar ainda mais a sociedade chinesa, agora limitando o uso da inteligência artificial, que deve ser exercitada dentro de regras que não tragam prejuízo à sociedade e nem ponham em risco a democracia popular da China, os americanos, especialmente os de New York compram sandálias de até U$1000, concorrentes da Havaiana.

Rory Satran na edição online do Wall Street Journal do dia 25 anotou esse ressurgimento das sandálias, no momento em que perder o emprego pode acontecer ao dobrar a esquina. “Inclui estilos populares como a tira de couro com efeito crocodilo da Toteme (US$ 480), o slide Kinto de couro simples da A.Emery (cerca de US$ 170), a sandália Dune de alta qualidade da The Row (US$ 690) e as opções da Bottega Veneta acima de US$ 1.000.

Alguns são visivelmente luxuosos, como a versão Dot da Bottega, com couro e corrente trançada, enquanto a Dune é feita de gorgorão de algodão e borracha. Os fãs dizem que o design just-so dos modelos mais sofisticados vale o preço”.

Xi precisará de muita habilidade para continuar ostentando o líder, porém, precisará de mais habilidade ainda, para inglês ver.

*Gerson Brasil, jornalista, escritor e secretário de Redação da Tribuna da Bahia