Pacientes renais e transplantados devem redobrar cuidados na pandemia, diz nefrologista

Diretora científica da Sociedade Brasileira de Nefrologia Seccional da Bahia, Ana Flávia Moura, fala sobre o tratamento de diálise, sintomas de doença renal crônica e cuidados 

Por Jones Araújo e Osvaldo Lyra
08/05/2020 às 13h58
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Foto: Reprodução
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A pandemia do coronavírus tem causado uma crise em diversos sistemas do país, principalmente para o de saúde. Segundo dados do último senso realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia em 2018, no Brasil havia mais de 133 mil pessoas realizando diálise no país, em 770 clínicas credenciadas, distribuídas somente em 350 municípios. Em tempos de evitar aglomeração social para conter o avanço da Covid-19, os pacientes renais crônicos precisam estar atentos as medidas de prevenção da doença, de acordo com informações da nefrologista, Ana Flávia Moura. Ela é diretora científica da Sociedade Brasileira de Nefrologia Seccional da Bahia e a personalidade entrevistada no Podcast do Muita Informação.

Ao editor-chefe do Portal Muita Informação, jornalista Osvaldo Lyra, Ana Flávia falou que as medidas de prevenção como o uso de máscara, álcool em gel e lavar as mãos são importantes para os pacientes renais crônicos, principalmente quando estão em viagem para realizar a diálise, já que às vezes precisam dividir o transporte com outros passageiros. Apenas 7% do total dos municípios brasileiros contam com unidades de diálises. Portanto, o deslocamento acaba sendo essencial.

"Infelizmente a grande maioria das cidades da Bahia não tem unidades que façam o tratamento para a substituição renal e então, muitos pacientes precisam sair de cidades do interior para ir até a capital ou em cidades maiores para fazer o tratamento. Na maioria das vezes esse deslocamento é feito em transportes fornecidos pelas prefeituras, que são transportes que inevitavelmente precisam ser compartilhados com outras pessoas, e então é importante que sejam tomados cuidados rígidos para evitar o máximo que tenha contaminação" orienta. 

Perguntada sobre a situação dos pacientes renais na Bahia, a nefrologista falou que o estado tem um número importante de pacientes com doenças renais crônicas e de acordo com ela, esse número infelizmente não é atendido por completo em relação a disponibilidade de vagas em unidades que fazem o tratamento dialítico. "Além disso, vivemos um momento preocupante para todos, principalmente para esses pacientes que precisam se deslocar mais de uma vez por semana, até o Centro de Terapia Renal para fazer o tratamento que não pode ser suspenso de nenhuma forma", afirma.

A doença renal crônica está associada a sintomas como enjoo, vômito, perda de peso, sonolência ou insônia, sangramento, emagrecimento, inchaço e falta de ar. Porém, segundo a especialista, esses sintomas só aparecem na fase semi-avançada da doença, "o grande problema é que muitas vezes a pessoa tem disfunção renal e não sabem que tem porque não sente nada. Nessas fases iniciais em que não existem os sintomas é fundamental que o diagnóstico seja feito para que a gente tenha oportunidade de intervir melhorando a função renal ou até recuperando. Nas fases finais a gente não consegue reverter a lesão", disse. Ela completa que o paciente que faz diálise e tem doença renal crônica tem um estado inflamatório no organismo permanente que acaba diminuindo a imunidade do paciente e aumentando o risco de contraírem o Covid-19. 

Transplantados

De acordo com a profissional, os pacientes transplantados também estão no grupo de risco a contraírem o coronavírus. Porque eles "fazem uso de medicamentos que diminuem o sistema imune, que defendem o nosso organismo e além da doença renal crônica têm esse agravante que é o fato de usarem imunossupressores que aumentam o risco de infecção e aumentam também o risco de uma evolução ruim caso eles sejam infectados. No Brasil inteiro se faz 6 mil transplantes renais por ano".

Escute a entrevista na íntegra no Podcast abaixo: