"Infelizmente, nós vivemos um pouco divididos", diz padre Edson sobre Igreja Católica

Nesta Semana Santa, o pároco da Basílica do Senhor do Bonfim fala sobre a importância de se respeitar a fé de cada um

Por Bruna Ferraz
28/03/2024 às 08h40
  • Compartilhe
Foto: Equipe Portal M!
Foto: Equipe Portal M!

À frente da Basílica do Senhor do Bonfim, símbolo da fé católica para baianos e turistas, o padre Edson Menezes costuma abrir espaço, durante os seus sermões e aparições públicas, para destacar o respeito à pluralidade da fé do povo baiano. Nascido na região de Salinas da Margarida, município situado na porção sul do Recôncavo do estado, o religioso disse ter crescido sob forte influência das tias, frequentando igrejas e terreiros de Candomblé.

"Aquela coisa da dupla pertença, que é uma realidade aqui na Bahia, aqui em Salvador, no Nordeste brasileiro", disse o padre ao editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra, durante o especial SobreTudo.

A convivência com os diferentes credos permitiu que, mesmo se declarando um homem de devoção católica, ele compreendesse as várias formas que o indivíduo pode se utilizar para se conectar com o sagrado.

Sobre a sua vocação para o sacerdócio, Edson disse ter sido algo concedido pelo divino. "Para nós, cristãos, Deus nos escolhe desde o ventre de nossa mãe. Antes do nosso nascimento, Ele já escolhe um nome, Ele já deseja e nos permite viver uma vocação. Então, desde muito cedo, eu sempre tive um espírito de liderança muito aguçado, mas o religioso me tocava muito".

Bases da fé católica

Durante o bate-papo, o padre explicou que, o princípio que norteia a fé católica é o cristianismo, destacando que o católico é também um cristão, diferente do que propaga parte da crença popular.

"A base da nossa fé é o Evangelho, o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Depois, a tradição apostólica, a Igreja Católica vem dos apóstolos, e nós continuamos uma tradição que começou com Pedro. Jesus diz a Pedro: 'Pedro, tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja'. Para nós, Pedro foi o primeiro papa, aí tudo começa".

Segundo o padre, é preciso compreender a Igreja como humana e, desta forma, aceitar que ela já viveu e viverá, ao longo da história, alguns problemas, contudo, sempre haverá uma renovação.

"A Igreja Católica vem superando todos os desafios, as intempéries de cada época. Ela vai sendo conduzida pelo Espírito Santo de Deus, esse barco de Pedro, e nós vamos constatando aquilo que o próprio Jesus disse: 'As portas do inferno nunca prevalecerão sobre ela', isto é, sobre a Igreja. O Espírito Santo conduz a igreja, de modo que, como é natural, a Igreja também é humana. Quando temos alguma crise, quando enfrentamos alguma tempestade, surge o Francisco de Assis, surge o Inácio de Loyola, uma Catarina de Sena, uma Santa Terezinha do Menino Jesus, um João Paulo II, um papa Francisco. Aí as coisas ressurgem com o que retomam, e a Igreja vai navegando no mar da vida, anunciando o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo".

Espaço para outras religiões

Mesmo ainda sendo um país majoritariamente católico, o Brasil tem tido cada vez mais pessoas se declarando de religiões evangélicas ou neopentecostais. Segundo o Instituto Datafolha, 44% dos que se reconhecem como evangélicos, são ex-católicos. A projeção é que, até 2023, haja mais evangélicos do que católicos no País.

Para o padre Edson Menezes, vários fatores explicam esse movimento, sobretudo a separação ideológica dentro da própria Igreja Católica.

"Nos últimos anos, uma divisão ideológica, digamos assim, de grupos tidos como tradicionalistas, outros progressistas, outros moderados, no meu modo de pensar, tem causado uma certa confusão. E talvez uma falta de comunhão, que nós possamos passar para as pessoas uma mensagem que possa convencer o outro, sobretudo a partir do nosso testemunho, aquilo que se disse no início dos cristãos: 'Vejam como eles se amam'. Infelizmente, nós vivemos um pouco divididos, uma certa competição interna ideológica, acusações, uma falta de vivência do amor fraterno e da comunhão", disse o líder religioso.

Edson Menezes pontou ser importante lembrar que mesmo o Evangelho, a palavra de Deus, sendo uma verdade com base na teologia, cada pessoa a experiencia de forma diferente, por isso, fará a essa interpretação a partir das suas próprias vivências e convicções. Isso, segundo o padre, precisa ser respeitado. "No nosso caso, nós seguimos a interpretação do magistério da Igreja, mas, ao mesmo tempo, nós respeitamos que cada um entende, compreende a leitura que cada um faz. Eu acho que nós precisamos respeitar e reconhecer que o outro tem esse direito".

As várias formas de conexão com o sagrado

A Igreja Católica,como explica o padre Edson, possui diversos ritos diferentes, seguindo, por exemplo, o rito latino, mas compreendendo que, com o passar do tempo, vão surgindo novos grupos.

"Ultimamente esse ramo denominado de carismático, ele tem crescido muito. Porque tem uma prática de oração mais fervorosa, de buscar a força do Espírito Santo, é um pessoal mais evangelizador, que vai ao encontro das pessoas, e tem um modo de celebrar, é muito festivo, muito alegre. Isso atrai e toca muito as pessoas. Esses grupos hoje são chamados de novas comunidades, novos movimentos que têm a bênção da Igreja", detalhou.

Mesmo com a aceitação dessas mudanças, no entanto, o padre explicou que é preciso estar atento aos exageros e radicalismos. Segundo destacou o religioso, é importante que, dentro da Igreja, cada um possa viver a sua fé de maneira equilibrada e com carisma.

Confira o episódio na íntegra: